Entenda os 3 erros da Marvel Studios nas Fases 4 e 5
Nós reunimos os 3 erros que a Marvel Studios vem cometendo com o seu Universo Cinematográfico, e já adiantamentos que nenhum dos três tem a ver com 'lacração'.
Pode parar. Sério, é melhor você ir parando, eu sei exatamente o que você tá fazendo. Eu sei que você leu o título desse texto e logo em seguida pensou:
– SÓ TRÊS ERROS???
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Sim, foram três e eu vou provar para você. E já adianto, nenhum dos três erros tem a ver com a “lacração”. Então se você veio aqui esperando ver mimimi porque as Fases 4 e 5 tiveram mais diversidade, veio ao artigo errado.
Vou mostrar que a Marvel errou exatamente onde já tinha acertado, mas a necessidade de fazer algo cada vez maior acabou sabotando os planos de Kevin Feige e companhia. Se antes parecia uma ideia interessante ter mais filmes estreando e séries saindo pelo Disney+, hoje podemos ver que o tiro saiu pela culatra.
Mas, calma, estou me adiantando, esse é o segundo tópico que vou abordar nesse texto. Antes disso, preciso falar de um problema que surgiu após a despedida do Homem de Ferro e do Capitão América.
1 – Falta de protagonistas
Até hoje, um dos textos mais acessados deste site é um em que eu previa que o Homem de Ferro iria morrer em Vingadores Ultimato, que na época nem tinha um título oficial. Muitos me chamaram de louco, oras, nunca que a Marvel iria matar o personagem mais importante e mais carismático do seu universo cinematográfico. E adivinha quem estava certo? O desenvolvimento de Tony Stark não mentia: ele estava indo de um bilionário egoísta para um herói que seria capaz de se sacrificar caso fosse necessário.
Mas algo que eu não previ foi a aposentadoria do Capitão América. Nunca que eu imaginaria que ele abandonaria o escudo para viver no passado com a Peggy Carter. No entanto, novamente, a evolução dele indicava esse final, hoje eu vejo isso. Se antes Steve era um rapaz capaz de tudo para lutar para o seu país, no fim da jornada ele já era um sujeito que lutou contra nazis, robôs, aliens e que só queria se dar o direito de ser feliz.
Juntos, Tony e Steve eram personagens que evoluíam e eram desenvolvidos com o passar dos filmes, a trajetória deles levava o MCU adiante. Mesmo o conflito dos dois serviu a um propósito dentro da narrativa da franquia, passou longe de ser algo gratuito. Cada participação de ambos culminou em um final digno e emocionante para ambos heróis.
Agora me responda: quem é o protagonista do Universo Cinematográfico atualmente? Qual personagem vai ganhando mais camadas conforme os filmes são lançados? O Doutor Estranho? Não, ele é muito poderoso e os roteiristas da Marvel não sabem o que fazer com ele, isso quando não colocam o personagem para segurar uma enchente. A Feiticeira Escarlate? Também não, até onde se sabe ela tá morta. O Thor? Outra resposta errada, a cada filme ele parece estar com uma personalidade diferente. O novo Capitão América? Tão pouco, faz 2 anos que o Sam assumiu o manto e desde então o restante dos personagens da Marvel parecem não ter sido informados disso. O Homem-Aranha? Nem faria sentido a Marvel dar protagonismo a um personagem que está sob domínio de outro estúdio.
A resposta certa para essa pergunta é: NINGUÉM! Atualmente, não existe um personagem dentro do MCU que possa ser visto como protagonista da Saga do Multiverso do mesmo jeito que o Homem de Ferro e o Capitão América foram para a Saga do Infinito. Dentre a verdadeira infinidade de personagens que tinham à disposição, Kevin Feige e seus roteiristas não conseguiram achar um que encabeçasse a nova fase dos filmes da Marvel. Apesar de parecer besteira, acompanhar o crescimento de um novo protagonista nas telas poderia motivar as pessoas a se manterem atentas às novas produções da Marvel Studios.
Quer dizer, isso se não houvesse tantas produções para acompanhar…
2 – Crescendo para os lados
Você lembra quando a Marvel Studios lançava “só” 3 filmes por ano e ainda assim tinha gente dizendo que era excesso de conteúdo para uma marca? Bons tempos. Quem falava isso não deixava de ter razão, nenhuma outra franquia chegou perto de estrear três filmes anualmente. Acontece que esses filmes ao menos tinham uma função bem definida: levar o MCU adiante.
Cada lançamento era um novo degrau na escada que nos levaria à épica conclusão da Saga do Infinito. Mesmo aqueles que, teoricamente, eram aventuras isoladas ainda adicionavam algo de útil ao plano geral. Basta lembrar que, apesar do primeiro filme do Doutor Estranho ser bastante focado em Stephen Strange, ainda assim ele introduziu a Joia do Tempo. Vingadores: Era de Ultron deu a motivação para que Guerra Civil acontecesse, que por sua vez gerou a separação responsável pela vitória de Thanos em Guerra Infinita. Mesmo que pequena, a conexão com o restante da franquia estava lá.
Mas se antes o MCU crescia pra frente, hoje parece que ele expande para os lados. A palavra de ordem do momento é adicionar mais e mais personagens. Cavaleiro da Lua, Kate Bishop, Druig, Yelena, Guardião Vermelho, John Walker, Lobisomem da Noite, Echo, Phastos, Cavaleiro Negro (não faço ideia de qual seja o nome do personagem, só sei que nos gibis ele é o Cavaleiro Negro)… E a lista poderia seguir indefinidamente se eu ao menos lembrasse como os heróis e vilões apresentados nessa fase se chamam. Vários deles deram a cara nas telonas e telinhas apenas uma vez, sem sabermos quando voltaremos a vê-los de novo.
Do alto da sua pilha de dinheiro, Kevin Feige parece não ter enxergado que mais vale ter meia dúzia de personagens com os quais o público se conecta e tem vontade de voltar ao cinema para ver novamente do que um monte de gente que ninguém se importa. Não me entenda mal, vários desses personagens são ótimos. Eu adoraria ver mais da Kate Bishop junto com a Yelena, o mesmo vale para novas aventuras com cara de terror antigo protagonizadas pelo Lobisomem da Noite, no entanto, eles só estão lá para fazer volume.
Claro que parte da culpa é do Disney+, várias das produções em que esses personagens aparecem foram feitas só para alavancar serviço de streaming do Mickey. Some esse excesso de conteúdo com a falta de foco das Fases 4 e 5 e temos um público sem motivação nenhuma para acompanhar os lançamentos. Por que vou gastar 40 minutos do meu dia para ver o novo episódio de Invasão Secreta se, além de muito ruim, eu sei que ela terá impacto zero na Saga do Multiverso? A mão gigante saindo do meio do mar apresentada em Eternos tá até hoje esperando ter alguma serventia.
Muito provavelmente, boa parte desses heróis e vilões terá como única utilidade ser morta por Kang em Vingadores 5 e Vingadores 6. Ainda assim, alguém realmente vai se importar com a morte de uma penca de fulanos que nem foram devidamente desenvolvidos. Se o Cavaleiro da Lua se sacrificar durante a batalha final, é bem capaz das pessoas no cinema se perguntarem:
– Espera, quem era esse daí mesmo?
Isso se o Kang conseguir matar alguém.
3 – Um vilão decepcionante
Apesar de muita gente torcer o nariz até hoje, o Hulk levar uma surra do Thanos no começo de Guerra Infinita foi jogada de gênio. Colocar o Titã Louco para matar o Loki , então, foi a cereja do bolo. Numa única cena o público já entendia que o vilão era poderoso o suficiente para dar cabo sozinho do primeiro inimigo dos Vingadores e também do gigante esmeralda que venceu ele no primeiro filme. Foi o jeito perfeito de deixar claro para o grande público que o Thanos era bem poderoso.
Com o Kang a história foi diferente. A nova ameaça do universo Marvel foi apresentada no último episódio da 1ª temporada de Loki fazendo o que eu gosto de chamar de “uma apresentação de Power Point” (um grande monólogo mega-expositivo), para logo em seguida ser morto por Sylvie. E tudo bem, né? O Thanos também só ficava sentado em suas aparições iniciais. Na próxima ele com certeza vai mostrar a que veio.
Só que não. Kang apareceu de novo em Quantumania, falando que apagou realidades e matou trilhões, algo que nunca vemos em tela. Como se não bastasse, o vilão ainda é derrotado por formigas. Sério, como você quer que o público tema um personagem que é vencido por formigas? E agora, na nova temporada de Loki, vemos Victor Timely, outra variante vivida por Jonathan Majors, ser morta em tela. Já podemos considerá-lo o Kenny do MCU.
Quem leu os quadrinhos, sabe do que O Conquistador é capaz, no entanto, esse não é o caso de 99% das pessoas. Para elas, Kang é só um cara que fala e morre demais. Ninguém vai temer um cara que está o tempo todo falando o quanto é poderoso, conquistou realidades, sobrepujou os Vingadores sem que nada disso seja mostrado, e que ainda por cima morre a cada nova aparição.
Nem precisaria passar cenas de cada Vingador sendo morto pelo Kang, seria algo cansativo de se ver. Talvez uma única cena de impacto, como a do Thanos em Guerra Infinita, já desse conta de fazer todo mundo entender aquele sujeito com a roupa roxa e verde não é qualquer um. Quem sabe uma sala de troféus com relíquias e souvenires dos Vingadores de cada realidade: a armadura branca do Homem de Ferro Superior, o capacete do Homem-Formiga com visual clássico, um dos inúmeros escudos alternativos que o Capitão América já usou nos quadrinhos, um certo esqueleto de adamantium e cabeça do Maestro, a versão despótica do Hulk, bem no meio. Só isso já mostraria que Kang:
- Já passou por várias realidades
- É capaz de vencer os Vingadores
Pronto, apenas isso já seria mais efetivo que um discursinho manjado falando que já matou bilhões, trilhões ou gazilhões de seres ao longo das realidades e geraria certa expectativa para o público querer ver ele em ação. Em vez disso, atualmente eu só consigo sentir vergonha alheia a cada nova aparição do tal Conquistado.
Pecou pelo excesso
Quem acompanha cinema sabe que é comum que continuações sejam maiores e tenham mais de tudo que deu certo no primeiro filme. Se Transformers fez sucesso, então Transformers – A Vingança dos Derrotados vai ter um número ainda maior de robôs e explosões mais barulhentas. Em sua segunda aventura, John Wick vai matar ainda mais pessoas e usar mais armas. A sequência de Alien não teve dois, mas uma ninhada inteira de xenomorfos, além da rainha gigantesca das criaturas.
No próprio MCU podemos ver esse padrão. O primeiro Vingadores teve uma batalha para salvar NY, já Era de Ultron evoluiu para um meteoro que poderia destruir toda a vida na Terra e Guerra Infinita e Ultimato culminaram numa ameaça a toda a vida do universo (ou pelo menos, metade dela). Guardiões da Galáxia Vol. 2 sofreu várias críticas por conta das suas numerosas piadas e momentos musicais desnecessários.
A Saga da Multiverso replicou esse mesmo pensamento de “mais e maior”. São mais personagens, mais produções e mais versões de um mesmo vilão. A Marvel Studios só esqueceu de se perguntar se essa anabolizada no MCU funcionaria. As pessoas se conectaram ao Tony Stark e Steve Rogers não por eles só heróis, mas por serem bem trabalhados e pela rivalidade que os personagens tinham entre si. Desde o começo da Fase 4 até agora, talvez só o Loki esteja perto de ser tão bem desenvolvido quanto os dois vingadores, só que ele aparece a cada dois anos e é soterrado por uma infinidade de personagens irrelevantes.
O mesmo vale para as produções, há sim uma ou outra que se salva, no entanto a qualidade delas acaba se diluindo em meio a várias outras produções descartáveis. E o grande volume de lançamentos transformou o que antes era entretenimento numa obrigação. Quando eram só três filmes por ano era fácil e divertido de acompanhar o andamento da franquia, só que quem dá conta de se manter atualizado com um universo que todo mês tem coisa nova? Eu mesmo não terminei de ver os curtas do Groot e até hoje me questiono se vale a pena começar Invasão Secreta. Aí quando aparece um filme ou série interessante, o espectador pode acabar ficando perdido por não saber quem é aquela heroína ou aquele vilão que brotou do nada. Vamos pegar o caso de As Marvels, que estreou nos últimos dias, provavelmente boa parte de quem for assistir não vai saber quem é a Kamala Khan ou a Monica Rambeau.
E o excesso de produções também traz problemas para os próprios profissionais que trabalham com elas. Toda nova estreia da Marvel vem acompanhada de denúncias da galera de VFX que precisa lidar com prazos e pedidos absurdos por parte dos chefões do estúdio. Aí quando chega o lançamento, a internet é bombardeada com imagens de cenas com efeitos lamentáveis, algo que não aconteceria se o prazo fosse coerente e as alterações não tivessem que ser feitas de última hora. Outra coisa bastante recorrente nas duas fases mais recentes são as notícias com problemas de regravações, atores que não estavam juntos durante as regravações por problemas de agenda…
Como várias continuações já nos mostraram, mais não é sinônimo de melhor. O que faz um filme ou série serem bons não é a grande quantidade de explosões, sangue ou palavrões que tem neles, e sim um roteiro bem escrito, personagem bem atuados e cenas bem dirigidas. O MCU não ficou melhor por ter mais de tudo que deu certo antes, na verdade todo esse exagero fez com que os responsáveis deixassem de dar atenção ao que realmente importava.
Talvez seja hora de admitir que não deu certo e pisar no freio antes que o precipício chegue. E se continuar nessa velocidade, pode não demorar muito.