Como a China turbinou as bilheterias dos heróis da Marvel e DC – e o que isso significa para o cinema? [Parte 2]
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Na primeira parte desta matéria especial, abordamos o histórico do público chinês com o cinema, com foco nos filmes americanos. Agora nesta segunda parte, conheça como tudo isso começou a mudar a partir do ano passado.
Os super-heróis se erguem…
Lançado na China em 11 de maio de 2018, Vingadores: Guerra Infinita foi um estouro tão grande por lá como foi no resto do mundo. O embate dos heróis com o vilão Thanos faturou US$ 360 milhões por lá, não só ultrapassando Era de Ultron para se tornar na época o maior filme de heróis no país, como também deixando para trás o quarto Transformers para ser o terceiro maior longa hollywoodiano de todos os tempos na China, perdendo apenas para os dois últimos Velozes & Furiosos.
Mas aí é que está: já era de se esperar que Guerra Infinita fosse um sucesso grandioso entre os chineses, que já haviam provado adorar os longas dos Vingadores. No entanto, ninguém esperava a silenciosa revolução que aconteceu depois que a terceira aventura do grupo de heróis da Marvel deixou os cinemas locais.
Em 24 de agosto, Homem-Formiga e a Vespa foi lançado no país sem maiores intenções a não ser uma aventura mais leve e divertida após os eventos dramáticos de Guerra Infinita. No restante do globo tal longa havia desempenhado de forma decente, porém num nível um pouco abaixo do encontrado por outros heróis do MCU (Scott Lang não chegou nem perto dos totais globais de Peter Parker, T’Challa e mesmo Stephen Strange). Ainda assim, analistas de bilheterias ao redor do globo se surpreenderam quando Homem-Formiga e a Vespa estreou com US$ 66,6 milhões na China, uma abertura superior às de Pantera Negra (US$ 65,1 milhões), Thor: Ragnarok (US$ 53,3 milhões), Guardiões da Galáxia Vol. 2 (US$ 48,5 milhões) e Doutor Estranho (US$ 43,6 milhões), atrás apenas da de De Volta ao Lar (US$ 69,2 milhões) entre os longas do MCU que não envolvem os Vingadores.
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Nas semanas seguintes, o segundo Homem-Formiga desempenhou melhor do que o reboot do Cabeça de Teia de 2017, e saiu de cartaz com surpreendentes US$ 121,2 milhões. O filme superou por pouco Homem de Ferro 3 e se tornou na época o quarto maior filme de heróis na China, atrás apenas de Guerra Infinita, Era de Ultron e Guerra Civil, portanto tornando-se o maior para um herói solo. Quem poderia imaginar, não é?
Mas as surpresas não pararam por aí. Em 9 de novembro Venom chegou aos cinemas chineses, distribuído pela Sony porém com um grande auxílio do conglomerado local Tencent Pictures, que cobriu um terço do orçamento do longa. Graças ao grande esforço de marketing da empresa chinesa, Venom foi um sucesso de proporções assustadoras no país, ao abrir com absurdos US$ 107,6 milhões, na época o 13º maior fim de semana de estreia chinês da história e o 6º maior para um longa americano.
Sim, não só a estreia de Venom na China deixou sua abertura americana (US$ 80,2 milhões) comendo poeira, como também em apenas um fim de semana o simbionte de Tom Hardy ultrapassou o faturamento chinês total de outros longas de heróis bem mais elogiados e bem sucedidos no ocidente, como Guardiões da Galáxia Vol. 2, Logan e Pantera Negra. Mais do que isso, diferentemente dos filmes citados na sentença anterior, Venom capturou a imaginação dos chineses e desempenhou exemplarmente nas semanas seguintes, encerrando sua carreira com colossais US$ 269,1 milhões, um total bem superior ao conquistado pelo longa nos EUA (US$ 213,5 milhões).
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Para se ter uma ideia do quanto a épica performance do simbionte na China turbinou sua bilheteria mundial, basta dizer que, na semana anterior à sua estreia no gigante oriental Venom havia faturado US$ 543 milhões. Entretanto, após a abertura do longa por lá, seus números globais saltaram para US$ 676,2 milhões, ultrapassando O Homem de Aço e Liga da Justiça. No fim das contas, graças à China Venom saiu de cartaz com gigantescos US$ 856 milhões, superando um sem número de blockbusters de heróis, como Mulher-Maravilha, Ragnarok e quase todos os filmes do arqui-inimigo do Venom nos quadrinhos, o Homem-Aranha, com exceção do terceiro de Sam Raimi e De Volta ao Lar.
Mas o gosto dos chineses por filmes baseados em quadrinhos não arrefeceu. Menos de um mês após a performance avassaladora de Venom, os habitantes da nação comunista assistiram a Aquaman antes de todo mundo, com o herói da DC chegando por lá em 7 de dezembro. A abertura do Rei de Atlântida na China, de US$ 93,3 milhões, foi grande mas não tanto quanto a do simbionte da Marvel. Porém, posteriormente Aquaman se saiu muito melhor do que o longa da Sony, faturando US$ 54,1 milhões na segunda semana (contra US$ 51 milhões de Venom) e US$ 23,3 milhões na terceira (Venom obteve US$ 19,4 milhões).
No fim das contas, os chineses adoraram o tom fantasioso de Aquaman e o blockbuster da Warner/DC saiu de cartaz com ótimos US$ 298,3 milhões na China, tornando-se até então o segundo maior filme de heróis da história por lá (atrás de Guerra Infinita) e o quinto maior hollywoodiano (perdendo para os dois últimos Velozes & Furiosos, o terceiro Vingadores e o quarto Transformers). Trata-se também de um dos filmes americanos bem sucedidos de melhor desempenho após a abertura na China, um mercado notório pelas quedas gigantescas que os longas enfrentam por lá (muitos faturam mais da metade de sua bilheteria final já no próprio fim de semana de estreia).
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Aquaman foi um sucesso em todo o globo (inclusive no Brasil, onde é atualmente o maior faturamento da Warner), porém foi sua histórica performance na China que lhe permitiu se tornar, com US$ 813 milhões, o maior faturamento internacional (leia-se “fora dos EUA”) para um longa de heróis que não tenha a palavra “Vingadores” no título, bem como, com US$ 1.14 bilhão, a quinta maior bilheteria global do ano passado, a segunda maior para a Warner e a nona maior para um filme de heróis (segunda para um longa de fora do MCU, atrás apenas de Os Incríveis 2).
Em março desse ano, Capitã Marvel chegou aos cinemas chineses e, embora não tenha obtido os totais avassaladores de Venom e Aquaman, de toda forma o longa conseguiu quebrar o suposto “teto” dos filmes de heróis que mencionei acima. A Carol Danvers de Brie Larson abriu com bons US$ 86,3 milhões e veio a sair de cartaz tendo faturado US$ 154 milhões na China, um total superior aos de US$ 100 milhões a US$ 120 milhões obtidos por quase todos os filmes de heróis solo do MCU lançados no país entre Homem de Ferro 3 e Homem-Formiga e a Vespa.
Mas isso tudo seria fichinha perto do evento que chegaria no mês seguinte: Vingadores: Ultimato foi tão aguardado pelos chineses quanto pelo restante do mundo, e o épico do MCU quebrou recordes de pré vendas nos sites de vendas locais. O encerramento da Saga do Infinito abriu numa quarta-feira por lá e até seu primeiro domingo havia alcançado imensos US$ 330,5 milhões no país, ultrapassando quase todos os outros longas americanos com exceção de Guerra Infinita e Velozes & Furiosos 7 e 8 nesse curto período de tempo. Com sua gigantesca abertura na China, Ultimato pôde se tornar o primeiro filme a faturar mais de US$ 1 bilhão em apenas um fim de semana – leia meu post com os recordes quebrados pelo longa para mais informações.
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Enfim, Ultimato acabou obtendo uma bilheteria chinesa total de colossais US$ 614 milhões, e é atualmente de bem longe o maior filme americano da história por lá. Mesmo comparado com os filmes chineses ele perde apenas os citados Wolf Warrior 2 e Terra à Deriva, bem como a recente animação Ne Zha Zhi Mo Tong Jiang Shi.
Finalmente, ainda encantados pelo MCU, os chineses deram uma performance histórica para o longa seguinte da Marvel Studios, Homem-Aranha: Longe de Casa. A aventura de Peter Parker pela Europa abriu com nada menos que US$ 98 milhões no país e veio a faturar cerca de US$ 200 milhões por lá, bem mais que seu predecessor, ou que qualquer outro filme solo do MCU (entre a Marvel Studios, ele perde apenas para os três últimos dos Vingadores no país). Com isso, Longe de Casa conseguiu se tornar o primeiro filme do Homem-Aranha a faturar mais de US$ 1 bilhão mundialmente, além de ultrapassar 007: Operação Skyfall para ser a maior bilheteria global da Sony – o que, claro, acabou por deixar os executivos da Disney babando de inveja.
Nem todos os filmes de heróis recentes se beneficiaram desse boom chinês. Apesar das excelentes críticas recebidas no ocidente, Homem-Aranha no Aranhaverso e Shazam! faturaram apenas US$ 63 milhões e US$ 43 milhões respectivamente no país. Já X-Men: Fênix Negra foi tão mal na China como no resto do mundo, arrecadando apenas US$ 59 milhões por lá.
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Ainda assim, com performances acima da média para super-heróis, Homem-Formiga e a Vespa, Venom, Aquaman, Capitã Marvel, Ultimato e Longe de Casa contaram com os chineses para turbinar suas bilheterias mundiais. Todos alcançaram números globais absurdos graças à China. Aliás, conforme eu argumento em minha análise sobre como o quarto Vingadores tornou-se a maior bilheteria da história, Ultimato, apesar de bem sucedidos em todo o globo, só conseguiu derrotar Avatar por conta de sua performance acima da média entre os chineses.
O próprio Longe de Casa só ultrapassou Skyfall por conta da China (um desempenho similar ao de De Volta ao Lar no país oriental ainda o levaria para acima do bilhão, porém o manteria distante de James Bond), ao passo em que Aquaman tem que agradecer o seu bilhão aos chineses (uma performance na China mais parecida com as de Batman vs Superman e Liga da Justiça faria com que o Rei dos Mares encerrasse sua carreira com US$ 950 milhões). Finalmente, Venom só ultrapassou os longas do Cabeça de Teia estrelados por Andrew Garfield e os dois primeiros da trilogia de Sam Raimi por conta da China – caso se mantivesse dentro do “teto”, o simbionte teria saído de cartaz com US$ 700 milhões.
Porém, enquanto os super-heróis arrastam multidões acima do normal entre os chineses, outros longas ficaram abaixo das expectativas no país – para desespero de Hollywood.
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… enquanto o restante decai.
Se, como eu disse na primeira parte desse texto, os chineses realmente adoram longas com monstros gigantes, então era de se esperar que Godzilla II: Rei dos Monstros fosse faturar horrores por lá, certo? Seu estúdio, a Warner, torcia para que ele fosse um dos maiores filmes hollywoodianos do ano na China, juntamente com Pokémon: Detetive Pikachu, que adapta o popular game, um gênero sempre muito bem sucedido entre os chineses. Alita: Anjo de Combate fora produzido por James Cameron, e o cinéfilo chinês compareceu em volume tão grande para prestigiar Avatar e Titanic quanto o restante do globo, ao passo em que o longa, uma adaptação de um famoso mangá cyberpunk estrelado por uma garota robótica, poderia atrair os espectadores orientais. Finalmente, MIB: Homens de Preto – Internacional poderia ser uma típica ficção científica de ação que costuma fazer sucesso na China, tal como os dinossauros de Jurassic World – e o terceiro MIB ainda havia faturado US$ 77,2 milhões no país, um número decente para 2012. Isso sem contar o fato de que o longa trazia Chris “Thor” Hemsworth como protagonista, e se isso funcionou para os astros de Velozes & Furiosos, por que não funcionaria com as estrelas dos Vingadores?
Esses longas tiveram desempenhos variados na China, mas que nem de perto foram o suficiente para turbinar sua bilheteria global, da mesma forma que houve com os super-heróis. E praticamente todos eles absolutamente precisavam de um boost chinês para não ficarem no vermelho, bem mais do que Ultimato e Longe de Casa.
O caso mais dramático é o de Godzilla. O filme do lagartão custou gigantescos US$ 170 milhões para ser feito, portanto precisava faturar ao menos US$ 600 milhões para não dar prejuízo (curiosidade: até hoje, nenhum filme de monstro gigante afora os da franquia Jurassic Park/World arrecadou mais do que US$ 567 milhões globalmente). Tendo tido um desempenho bem abaixo do esperado nos EUA (deprimentes US$ 110 milhões, menos do que seu concorrente direto Aladdin faturou em quatro dias em cartaz), a Warner contava com a China para salvar a bilheteria de Rei dos Monstros. Entretanto, ele faturou US$ 135 milhões no país do Extremo Oriente, um número decente visto por si só, mas que empalidece frente ao de outros longas estrelados por bestas colossais, como Rampage, Megatubarão, Kong: A Ilha da Caveira e, claro, os dois Jurassic World.
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Detetive Pikachu, por sua vez, era tido como um dos grandes desafiantes que Ultimato deveria enfrentar – e o histórico mostra que longas infanto-juvenis estreando próximos a grandes blockbusters épicos de mais de 2h30 de duração pode ser um bom negócio, vide os sucessos de Alvin e os Esquilos 2 e Jumanji: Bem-vindo à Selva, que bateram de frente com Avatar e Star Wars: Os Últimos Jedi respectivamente. No entanto, o famoso Pokémon amarelo, apesar de muito comentado na internet, teve desempenho sofrível não só nos EUA como também na China. No país oriental, onde esperava-se que o longa poderia alcançar um sucesso similar aos de Warcraft e Jogador Nº 1, ele acabou saindo de cartaz com apenas US$ 92,5 milhões – sim, menos do que Aquaman e Longe de Casa fizeram em seus primeiros finais de semana por lá. Apesar das boas críticas, Detetive Pikachu acabou sendo uma decepção para a Warner, já que o longa, ao custo de US$ 150 milhões, alcançou US$ 431,6 milhões em todo o globo – ele precisaria de quase US$ 100 milhões a mais do que isso para dar lucro.
Já Alita faturou US$ 133,3 milhões na China, mais do que nos EUA, porém ainda bem abaixo das expectativas. Tendo arrecadado US$ 404 milhões a um custo de US$ 170 milhões, o último filme distribuído pela Fox antes de ter sido absorvido pela Disney deu prejuízo ao estúdio. Tal longa, porém, acabou adquirindo um certo status cult na internet (pesquise pelo #AlitaArmy nas redes sociais), a tal ponto que a estrela do filme, Rosa Salazar, pediu ao fandom para que comprasse Blu-Rays de Alita para mostrar aos engravatados hollywoodianos que há demanda por uma sequência.
Finalmente, MIB: Homens de Preto – Internacional até abriu em primeiro lugar na China, com US$ 25,2 milhões. Entretanto, o filme não caiu no gosto dos chineses e saiu de cartaz com deprimentes US$ 44,4 milhões. Sim, o novo capítulo da franquia de comédia e ficção científica faturou menos do que seu antecessor, Homens de Preto 3, em 2012, apesar do mercado exibidor chinês ser bem maior hoje do que naquela época.
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Claro, nem tudo está perdido: Bumblebee e Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw mostraram que suas respectivas franquias ainda tem bastante força na China, com o primeiro encerrando sua carreira com US$ 170,8 milhões e o segundo faturando cerca de US$ 100 milhões em seu primeiro fim de semana no país. Até mesmo O Rei Leão alcançou bons números e é a segunda maior bilheteria chinesa para uma reimaginação de um clássico animado da Disney, atrás apenas do também dirigido por Jon Favreau Mogli: O Menino Lobo.
Mas de um modo geral, é inegável que os chineses têm corrido para os filmes de heróis em um volume maior do que antes, enquanto outros longas sofrem no país.
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Conclusão: Quais são as implicações de tudo isso?
Claro, talvez a ideia de que filmes como Godzilla II e Detetive Pikachu devam ser bem sucedidos na China parta de uma visão estereotipada que nós, ocidentais, fazemos dos habitantes desse país tão distante. Afinal, esperar que o público de lá corra para assistir a propriedades tão tipicamente orientais como essas, a despeito de longas estrelados por heróis americanos como o Homem-Aranha e o Capitão América, é bastante problemático e indica um profundo desconhecimento dos hábitos dos chineses.
Ainda assim, quando analisamos a bilheteria de alguns blockbusters lançados há poucos anos atrás, fica difícil não sentir uma leve decepção. Em 2017, Kong: A Ilha da Caveira faturou mais do que Homem-Aranha: De Volta ao Lar, mas dois anos depois as franquias se inverteram e Longe de Casa teve um desempenho bastante superior ao de Godzilla II. No início de 2018, Jogador Nº 1 arrecadou bem mais do que Pantera Negra, mas em 2019 Detetive Pikachu foi esmagado por Capitã Marvel.
Se isso de fato for uma tendência, então os chineses estão basicamente seguindo os espectadores ocidentais, que também tem favorecido os super-heróis e ignorado outros blockbusters. Veja os EUA, por exemplo: 6 das 10 maiores bilheterias americanas de 2018 foram para filmes de super-heróis. Até esse momento, 3 dos 5 maiores filmes de 2019 por lá são de heróis.
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Enquanto isso, outros longas de ação e aventura, como Han Solo: Uma História Star Wars e Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald em 2018, e os citados Alita, Detetive Pikachu, Godzilla II e MIB: Homens de Preto – Internacional são relativamente ignorados pelos públicos na China, nos EUA e no mundo todo. O que isso significa? Que hoje em dia o público procura os cinemas para assistir filmes de ação e aventura repletos de efeitos especiais apenas quando elas envolvem heróis dos quadrinhos, e que isso está ocorrendo até em lugares onde não costumava acontecer.
É fato que, graças ao talento e à competência de gente como o produtor Kevin Feige, os diretores James Wan, Ryan Coogler, Peyton Reed, Joe e Anthony Russo, Patty Jenkins e Jon Watts e os vários roteiristas, filmes de heróis são produções de alta qualidade e até premiadas com o Oscar, enquanto coisas como Os Crimes de Grindelwald e Homens de Preto – Internacional possuem péssimas críticas e são motivo de piada na internet. É uma situação similar a ocorrida em meados da década de 1990 no mundo da animação, quando os melhores artistas trabalhavam para a Disney, gerando gordas bilheterias para a Casa do Mickey, enquanto desenhos lançados por outros estúdios, como Gatos Não Sabem Dançar e Anastasia, sofriam para encontrar seu público.
Mas isso não é exatamente uma coisa boa, pois o que acontece se o público simplesmente se cansar de filmes de super-heróis? Vão deixar de ir aos cinemas, afetando, portanto, toda uma indústria, que envolve desde os grandes executivos hollywoodianos até os donos e funcionários das salas de exibição?
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Claro, não é por acaso que o ápice dos heróis dos quadrinhos nas bilheterias tem acontecido justamente agora. Afinal, a Marvel Studios veio crescendo a cada filme, culminando no lançamento dos dois maiores longas da história do gênero nas bilheterias mundiais, Guerra Infinita e Ultimato, cuja popularidade foi tão grande que turbinou não só o MCU como também heróis que não participam da megafranquia, como o Deadpool e o Aquaman. É o famoso caso da maré alta que levanta todos os barcos.
Porém, ano que vem não teremos mais um novo filme dos Vingadores, e já começando em outubro, os próximos longas de heróis tem perspectivas de bilheteria bem mais, digamos, incertas. Coringa pode ou ser um bem sucedido e lucrativo suspense psicológico, tal como Cisne Negro, Se7en: Os Sete Crimes Capitais e Ilha do Medo, ou os espectadores podem não comprar sua proposta e fazê-lo afundar, assim como ocorreu com uma de suas principais inspirações, O Rei da Comédia – e o filme estrelado por Joaquin Phoenix provavelmente nem vai ser aprovado pelos censores chineses para passar lá. O mesmo vale para Aves de Rapina: sabemos que a Arlequina é popular, mas será o suficiente para levar o longa a alcançar uma bilheteria similar à de Esquadrão Suicida?
Na Marvel Studios, Viúva Negra e as sequências de Doutor Estranho e Pantera Negra devem ser bem sucedidos, assim como Os Eternos e Shang-Chi (se tem uma coisa que o estúdio de Kevin Feige faz bem, esta é introduzir os espectadores a novos heróis), porém qual será o impacto financeiro que as séries do Disney+ trarão aos filmes da casa? E o mais importante: nem esses longas, nem os da DC (Mulher-Maravilha 1984, The Batman e o Esquadrão Suicida de James Gunn) deverão alcançar os números globais dos Vingadores.
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Os próximos filmes de heróis não poderão mais contar agora com a ajuda da super-equipe da Marvel, de longe a franquia mais popular da década de 2010, e que ainda ajudou na formação de muitos jovens cinéfilos. Os quatro longas dos Heróis Mais Poderosos da Terra foram para muitas crianças e adolescentes nascidos no início deste século o que Harry Potter e O Senhor dos Anéis foram para os jovens do início dos anos 2000 e Star Wars foi para os dos anos 1980. Será que esse mesmo público que cresceu com Tony Stark e Steve Rogers vai continuar comparecendo às aventuras com novos e diferentes personagens?
O cinema de heróis entra na nova década mais poderoso do que nunca, e com o grande desafio de, sem a ajuda dos Vingadores, fazer jus à gigantesca popularidade que ganhou nos últimos anos. Já que hoje em dia a indústria do cinema hollywoodiano depende do sucesso dos super-heróis, então os novos longas precisarão manter a popularidade conquistada ao longo desta década.
Nos Estados Unidos, na China e no mundo inteiro.