Justiceiro vs. EUA e a Americana imperfeita que não está na TV

Nós já falamos sobre a primeira temporada do Justiceiro AQUI, mas agora queria focar diretamente na maior surpresa que eu tive assistindo à série: a abordagem desconstruída do psicológico de Frank Castle e uma ousada inserção de diversos problemas sociais dissecando falhas e hipocrisias naquela imagem de perfeição e soberania divina estadunidense, quase que mostrando que tudo que os EUA deveriam se orgulhar e almejar, não são os valores que vemos sempre nos filmes e séries que eles exportam para o mundo.

 

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“O dedo coçando pra matar vagabundo” virou bordão e seguiu na cabeça de geral enquanto aguardavam o lançamento da série, mas é mó interessante ver o quanto essa não é a vibe e moral da série. Temos que admitir que isso é meio irônico, já que muitas vezes a série joga toda a seriedade no chão e apela para uma onda extrema de violência (quase a glorificando) que mais parece um filme sangrento do Tarantino. Pode soar meio hipócrita, mas mesmo assim, a lição ao fim dos 13 episódios não é um “VAI LÁ, TEM QUE SAIR MATANDO MESMO QUE TÁ SUAVE”. Simplesmente não é, e o uso da violência e gore não diminui o peso desse discurso.

 

Sem vilões místicos, sem empresas de mafiosos, a coisa toda funciona como uma longa cutucada em muitas feridas e quase uma recapitulação histórica dos problemas que os americanos enfrentam agora nesses tempos de Donald Trump presidente. Terrorismo, absurdas mortes e tiroteios, o racismo enraizado que parece não acabar, o debate sobre o controle de armas, os valores da antiga América entrando em choque direto com os novos tempos, e uma realidade sem máscaras. Não temos aqui a figura das instituições policiais e militares dos EUA como o pilar base da moral e justiça, é uma das poucas vezes em que vemos uma desconfiança tão grande nessas instituições, se aproximando mais com a corrupção e desilusão que nós temos aqui no Brasil.

 

 

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A glória do patriotismo militar nas guerras no exterior praticamente não existe e a dor e a desilusão que a maioria dos personagens sofre, é uma interessante visão que questiona essa marra e confiança do American Way e da defesa da Liberdade.
Afinal, a dúvida sobre até onde vai essa luta pela liberdade, e vemos que nem tudo no modelo deles é, ou está, perfeito, e sua justiça não é nem um pouco justa assim. É uma quebra da propaganda que eles passam pro mundo e mais próximo de um relato sincero sem fantasias sobre o que eles vivem, e nós não entendemos e conhecemos tão bem, já que o que tentam passar para todo o mundo são produtos perfeitos, êxitos políticos e a ideologia social definitiva para todo o planeta.

 

Enquanto pra gente é divertido pra caralho assistir o Justiceiro enchendo alguém de bala ou um veterano explodindo bombas em civis da própria pátria, bom, deve ser no mínimo amargo pra galera de lá, que vive isso no dia-a-dia, não sendo nem 3 meses depois do atentado em Las Vegas, com suspeitos eram terroristas do ISIS, e na verdade era apenas um senhor de idade americano enquadrado em todo o padrão de “tiozinho comum de qualquer canto da América”. Atentados cometidos por pessoas de lá mesmo são “comuns”, mas é curioso que ainda exista um costume muito grande de achar que todas as pessoas ruins vem sempre de fora, exclusivamente do Oriente Médio.

 

 

Mesmo com a violência no último, essas abordagens políticas e sociais atuais podem não agradar muito alguns fãs, mas ver tal aprofundamento nesse personagem, e numa série que tinha potencial para ser apenas tiro e porradaria escapista sem consequência, proporcionar todo esse debate e reflexões me fazendo até escrever esse tipo de texto, mano, é bastante louvável e abre as portas para que mais séries e até filmes de super-heróis não tenham medo de discutir assuntos polêmicos da atualidade, afinal, nos anos 60 e 70 essa era uma função importante da maioria das HQs e deveria se manter ainda mais forte agora que temos um debate mais amplo sobre todos os nossos problemas.

 

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A primeira temporada do Justiceiro foi uma das melhores coisas que a Netflix já fez, e espero que as coisas continuem dessa forma na já CONFIRMADA segunda temporada.  Leia mais: Os Defensores é a série da Marvel e Netflix menos assistida!

 

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Se tem uma coisa que eu odeio, é gente sem integridade. Elvis de Sá, as pessoas me chamam de Senhor das Estrelas.
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