Liga da Justiça é um desastre e Ragnarok ultrapassa Doutor Estranho

 

 

Nem os mais pessimistas seriam capazes de prever o desastre de proporções bíblicas que se abateu sobre Liga da Justiça neste fim de semana. O longa “dirigido” (?) por Zack Snyder teve uma patética abertura de apenas US$ 93,8 milhões nos EUA, o que representa a menor estreia para um longa do DCEU. Um número simplesmente pavoroso para este que deveria ser o longa mais importante do ano para a Warner Bros – aliás, o maior evento do ano para os filmes de super-heróis.

 

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Em vez disso, Liga foi apenas a oitava maior abertura de 2017 nos cinemas americanos. Isso significa que coisas como a ação Velozes & Furiosos 8, o blockbuster de terror It: A Coisa e todos os outros filmes de heróis do ano (excetuando-se Logan, que, entretanto, chegou apenas em 2D e era restrito para maiores), levaram mais pessoas ao cinema no primeiro fim de semana do que a reunião do Super Amigos.

 

Quando comparado com outros filmes de heróis, a situação fica ainda mais desastrosa. Afinal, um grupo composto por personagens tão icônicos dos quadrinhos como o Batman, o Superman, a Mulher-Maravilha, Flash, etc., em sua primeira aparição em conjunto nas telas, conseguiu a façanha de faturar menos que outras equipes até então bem menos famosas, como o Esquadrão Suicida e os Guardiões da Galáxia (os dois Volumes). De vender menos ingressos que os três filmes do Homem de Ferro e o do Deadpool, que, antes de estrearem nos cinemas, dificilmente tinham o mesmo status que acompanha a Liga e os heróis que a compõem. Liga conseguiu perder não apenas para filmes aclamados (Mulher-Maravilha, Homem-Aranha: De Volta ao Lar, os dois últimos do Capitão América, entre outros), como também para outros completamente devastados pela crítica (Homem-Aranha 3, X-Men: O Confronto Final).

 

 

Aliás, Liga foi a menor abertura para uma adaptação live action dos personagens da DC desde o desastroso Lanterna Verde, que havia rendido US$ 53 milhões em 2011. Após o lançamento de tal fracasso estrelado por Ryan Reynolds, a DC teve cinco anos decentes nas bilheterias pela frente, onde todos os seus longas, bem recebidos pelos críticos ou não, ao menos conseguiam abrir com mais de US$ 100 milhões na bilheteria americana. Mas isso agora acabou da forma mais desastrada possível com a ridícula estreia de Liga da Justiça.

 

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A abertura de Liga foi 43,3% menor que a de seu antecessor direto na trilogia de Snyder para o DCEU, Batman vs. Superman. Em outras palavras, a saga do Superman de Henry Cavill e do Batman de Ben Affleck conseguiu perder quase a metade de seus espectadores entre um filme e outro. Finalmente, para completar o festival de humilhações, Liga fez em todo o seu fim de semana pouco mais do que o citado Batman vs Superman e os dois Vingadores faturaram em seu primeiro dia de exibição (cerca de US$ 80 milhões para cada um).

 

 

“Mas por quê?”, você deve estar se perguntando. “Se a Liga trazia heróis tão famosos, por que abriu com números tão baixos?”. Para começar, mais uma vez, as críticas foram ruins, com apenas 40% no Rotten Tomatoes – ainda que esta seja uma cotação levemente superior às de Batman vs Superman e Esquadrão Suicida, é menos da metade da de Mulher Maravilha. A decisão do próprio RT em apenas revelar a cotação do filme através de um programa transmitido ao vivo pelo Facebook também não ajudou, levando a especulações na mídia que a Warner (que detém uma parte do RT) queria esconder as críticas ao longa para que não prejudicassem sua bilheteria. De toda forma, a ideia de que uma cotação no Rotten Tomatoes pode efetivamente prejudicar a bilheteria de um filme é um debate longo e complexo, com o qual nem a própria mídia chegou a um consenso.

 

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Por isso, considerando que Liga é um “filme melhor” que BvS, existe um conceito criado por meu principal mentor na análise de bilheterias, o jornalista Scott Mendelson da Forbes, que ajuda a explicar melhor o flop dos Super Amigos: a “Tomb Raider Trap“, ou “Armadilha de Tomb Raider”. Para compreender o que significa isso, imagine que certo estúdio de cinema, detentor dos direitos de uma importante e icônica franquia (personagens de quadrinhos, livros de sucesso, etc), anuncie uma adaptação dela nos cinemas. Por ser baseada numa marca famosa, ela logo atrai a atenção dos fãs e do público em geral, que acompanham atentamente a escalação do elenco, os trailers, pôsteres, etc. Ao ser lançada nos cinemas, o filme conquista excelente bilheteria, levando multidões aos cinemas. Porém, imagine também que este não seja um filme muito bom, detonado pela crítica e recebido com frieza pelo público. Assim, apesar de ser um sucesso financeiro, o longa acaba deixando uma impressão ruim por conta de sua baixa qualidade.

 

 

Anos depois, o estúdio lança uma continuação. Ciente das críticas, ele decide promover algumas mudanças para a sequência baseada nos defeitos apontados na primeira parte (no caso de Liga, adicionando mais humor e um tom mais otimista e heroico). Dessa forma, as críticas acabam sendo um pouco melhores desta vez. Entretanto, a primeira parte já havia irremediavelmente prejudicado a imagem da franquia, e logo o público, que já havia aprendido a não confiar nesta saga antes, comparece num volume bem menor, levando a tal continuação a decepcionar nas bilheterias. Ou seja, em Hollywood você tem apenas uma chance de conquistar o público. Se fracassar na primeira tentativa, nas outras será bem mais difícil recuperar a audiência perdida.

 

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Esse tipo de coisa costuma ser frequente. O próprio filme que batizou o conceito de Mendelson é um exemplo: em 2001, a adaptação dos games estrelada por Angelina Jolie Lara Croft: Tomb Raider chegou aos cinemas com críticas ruins, mas ainda conseguiu ser um sucesso financeiro de tamanho decente, de forma que sua continuação A Origem da Vida (que, na curiosa visão de Mendelson, é um longa superior ao primeiro), fracassou anos depois. Outro bom exemplo é a infame trilogia prequel de Star Wars. O primeiro filme, A Ameaça Fantasma, chegou aos cinemas repleto de expectativas em 1999, de modo que conseguiu faturar mais de US$ 900 milhões nos cinemas de todo o globo, na época a segunda maior bilheteria da história, atrás de Titanic. Porém, a fraca recepção entre críticos e fãs obrigou George Lucas a fazer algumas alterações para a sequência, Ataque dos Clones (como diminuir as participações do Jar Jar Binks), mas, mesmo com críticas superiores, o longa faturou apenas US$ 650 milhões mundialmente, perdendo em seu ano de estreia para Homem-Aranha e os novos capítulos de Harry Potter e O Senhor dos Anéis.

 

 

Agora o mesmo ocorre com Liga da Justiça, com uma diferença fundamental: este não é o segundo, mas sim o quarto filme do DCEU a ser mal recebido. Dessa forma, foi a própria popularidade dos heróis da DC que impediu o DCEU a cair na “Armadilha Tomb Raider” antes. A audiência previamente não havia se desapontado apenas com Batman vs. Superman, mas também com O Homem de Aço e Esquadrão Suicida, com apenas Mulher-Maravilha servindo de exceção. O público já havia “perdoado” Homem de Aço ao comparecer em peso para assistir BvS, e depois “perdoado” este correndo para os cinemas para conferir Esquadrão, sempre acreditando que o próximo seria o épico da DC que os trailers prometiam e que a audiência tanto ansiava por ver. Porém, em Liga da Justiça, a paciência do público esgotou-se. Não interessa se este talvez seja um longa melhor que BvS se continua sendo outra decepção.

 

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Mas e agora, confirmado o desastre, o que pode acontecer? Bem, caso tenha um desempenho similar ao de Esquadrão e O Homem de Aço, pode terminar entre US$ 228 milhões e US$ 234 milhões, o que seria o menos pior dos casos (embora ainda desastroso). Porém, caso caia feito rocha como ocorreu com BvS, Liga sai dos cinemas com patéticos US$ 187 milhões – ou seja, menos do que o que os dois Vingadores fizeram em seus primeiros fins de semana.

 

 

Enquanto isso, Thor: Ragnarok também não teve lá um fim de semana muito feliz. Por mais desastrosa que tenha sido a estreia de Liga, ela ainda serviu para afastar uma boa parte do público da aventura comandada por Taika Waititi, que faturou mais US$ 21,6 milhões no fim de semana – uma queda gigantesca de 62% em relação à semana passada. No total, o filme já soma US$ 247,2 milhões, o suficiente para ser a maior bilheteria para um longa de novembro da Marvel, superando Doutor Estranho. Além disso, Ragnarok continua sua lenta marcha para superar O Soldado Invernal (US$ 260 milhões em 2014) e entrar no top 10 das maiores bilheterias do MCU.

 

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Nas próximas semanas, teremos uma ideia mais certa do tamanho do impacto que a chegada de Liga da Justiça provocou em Ragnarok. Vale ressaltar que nem tudo está perdido para o longa estrelado por Chris Hemsworth: em julho, Homem-Aranha: De Volta ao Lar havia também caído imensamente conforme Planeta dos Macacos: A Guerra chegava aos cinemas. Nas semanas seguintes, porém, quem afundou na bilheteria foram os concorrentes do Cabeça de Teia, enquanto este ficava livre para “comer pelas beiradas” e se segurar exemplarmente nas bilheterias. Caso aconteça algo similar a Ragnarok, então ele ainda tem chance de passar da marca dos US$ 300 milhões nos EUA.

 

 

Além disso, é preciso abordar outro inesperado elemento que pode ter contribuído para as performances deprimentes dos dois blockbusters de super-heróis em cartaz: o drama independente Extraordinário, que conta a história de um menino (Jacob Tremblay) que nasceu com deformação facial, e precisa lidar com o bullying dos colegas de escola. Feito por apenas uma fração do orçamento de Liga e Ragnarok, Extraordinário foi recebido com ótimas críticas. Além disso, pelo o que eu pude acompanhar nos sites estrangeiros, o livro que o adapta é bastante popular entre as crianças americanas, e as escolas de Ensino Fundamental de lá tem organizado diversas excursões com seus alunos para o cinema para assistir o longa. Dessa forma, Extraordinário tem conseguido tomar de Liga e Ragnarok uma das faixas de público mais desejadas pelos grandes estúdios: o público infantil e adolescente. E considerando que a semana que vem traz a estreia da animação da Pixar Viva: A Vida é uma Festa, tudo indica que a disputa pela audiência jovem vai ficar ainda mais complicada, especialmente para os blockbusters de heróis.

 

Quem diria que o garotinho de O Quarto de Jack sozinho conseguiria fazer Batman, Superman, Mulher-Maravilha, Flash, Thor, Hulk e Loki passarem dificuldade, hein?

 

Liga se salva (um pouco) pelo mundo, enquanto Ragnarok supera O Soldado Invernal

 

Os executivos da Warner podem encontrar algum consolo no fato de que Liga da Justiça teve uma estreia até bem decente ao redor do planeta, ainda que abaixo das expectativas. O filme realizou uma estreia global em quase todos os países agendados para recebê-lo (com exceção do Japão) e faturou cerca de US$ 185 milhões. A maior parte dessa grana toda veio da China, onde os Super Amigos renderam pouco menos de US$ 52 milhões. Trata-se da segunda maior estreia para um filme da Warner Bros. naquele país, atrás apenas do próprio Batman vs Superman. Veremos se depois disso o longa também cairá no país tal como BvS, que depois de sua estreia despencou feito rocha e de alguma forma conseguiu a façanha de terminar com menos de US$ 100 milhões de faturamento nos cinemas chineses, de maneira que mais da metade de sua bilheteria tivesse sido feita no primeiro fim de semana (!).

 

Depois, o terceiro maior mercado do filme foi (ora, vejam só) o Brasil. Em nosso país, Liga respondeu pelo maior fim de semana de estreia da história, com US$ 14,2 milhões, um fato que virou notícia em diversos portais dos EUA. Mas vou detalhar melhor a épica estreia do filme no post específico do Brasil, que sairá amanhã aqui no Legado da MarvelSomando tudo, Liga já tem cerca de US$ 280 milhões globalmente, o que, visto por si só, não é nada mal – na verdade, é a 24ª maior estreia global de todos os tempos, perdendo por pouco para a conquistada pelo bilionário hit Rogue One: Uma História Star Wars (US$ 290 milhões no ano passado). O problema é que este resultado ainda é abaixo das expectativas (que punham a estreia global do filme acima dos US$ 325 milhões), além de representar uma queda expressiva em relação a Batman vs Superman, que estreou com US$ 422,5 milhões, atualmente a 5ª maior de todos os tempos.

 

 

Lembrando que, conforme foi muito discutido pela mídia, Liga da Justiça terá que faturar no mínimo US$ 600 milhões para simplesmente não deixar a Warner no prejuízo. Se quiser dar lucro, mesmo que magro, a seu estúdio, o faturamento do filme então precisará ser acima dos US$ 700 milhões. Enquanto isso, Thor: Ragnarok continua somando resultados expressivos ao redor do planeta. A comédia de Taika Waititi agora já tem quase US$ 492 milhões arrecadados fora dos EUA, o que aliás faz dela a segunda maior bilheteria internacional para um filme de super-heróis de 2017, atrás apenas de Homem-Aranha: De Volta ao Lar e seus US$ 546 milhões – uma quantia que Ragnarok pode muito bem ultrapassar.

 

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Mundialmente o filme já rendeu quase US$ 740 milhões, ultrapassando Capitão América 2: O Soldado Invernal para se tornar a oitava maior bilheteria mundial do MCU. Nos próximos dias, Ragnarok também deverá passar Guardiões da Galáxia e seus US$ 773 milhões e também se tornar o terceiro filme consecutivo da Marvel a passar dos US$ 800 milhões mundiais. É curioso notar que Ragnarok está sendo um dos filmes do MCU que mais está se conectando com o público estrangeiro. Atualmente, 66,5% de sua bilheteria global vem de fora dos EUA, uma proporção superada apenas pela de Vingadores: Era de Ultron, que teve 67,3% de seu total arrecadados no mercado estrangeiro. Veremos se isso será suficiente para levar o filme a ultrapassar os US$ 863 milhões de Guardiões da Galáxia Vol. 2 e clamar para si o título de “maior filme do MCU a não trazer um segundo sequer de Tony Stark”.

 

Fique com os resultados das bilheterias nos EUA do fim de semana!

 

Bilheteria EUA de 17/11/17 a 19/11/17:

 

Filme Semanas em cartaz Renda no fim de semana (em US$) Renda acumulada (em US$)
1- Liga da Justiça 1 93.842.239 93.842.239
2- Extraordinário 1 27.547.866 27.547.866
3- Thor: Ragnarok 3 21.669.600 247.265.770
4- Pai em Dose Dupla 2 2 14.435.710 50.212.157
5- Assassinato no Expresso do Oriente 2 13.807.562 51.735.924
6- A Estrela de Belém 1 9.812.674 9.812.674
7- Perfeita é a Mãe! 2 3 7.000.378 51.022.533
8- Lady Bird 3 2.516.399 4.688.874
9- Três Anúncios Para um Crime 2 1.102.166 1.536.391
10- Jogos Mortais: Jigsaw 4 1.081.772 36.462.005
Publicitário, formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais. Trabalho com Marketing Digital desde 2015. Apaixonado por bilheterias de cinemas, estudo o mercado cinematográfico brasileiro e estrangeiro já há vários anos, e desde 2017 sirvo como o principal analista de bilheterias para o Legado da Marvel.
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