Análise: Como Vingadores: Ultimato conseguiu se tornar a maior bilheteria de todos os tempos!

 

Enfim, aconteceu. Finalmente, quase três meses depois de sua estreia, Vingadores: Ultimato superou o recorde até então imbatível de Avatar, o épico de ficção científica de James Cameron que tomou o mundo de surpresa em dezembro de 2009. Ao atingir este incrível feito, o longa se tornou também o primeiro sem qualquer envolvimento de Steven Spielberg, George Lucas ou Cameron a conquistar a primeira posição mundial em quatro décadas. Esses três grandes cineastas ajudaram a moldar o cinema blockbuster como nós o conhecemos hoje, e sem o qual o Universo Cinematográfico da Marvel não existiria, portanto, o fato de Ultimato estar ultrapassando Cameron é simbólico, quase como uma passagem do bastão dos velhos mestres do passado aos atuais responsáveis por levar as novas gerações às salas escuras.

 

O anúncio da vitória de Ultimato veio justamente no sábado, durante o painel da Marvel na Comic Con, o que eu particularmente acho conveniente até demais. Chega a ser meio difícil de acreditar que o recorde tenha vindo justamente enquanto o estúdio anunciava suas próximas produções, quase como uma coroação de uma noite de glórias para a Casa das Ideias, capaz de levar os fãs à loucura – em especial aqueles que, sem ter qualquer envolvimento financeiro com a Disney, torceram feito loucos para que Ultimato pudesse superar Avatar. Mas, enfim, como não temos acesso às informações financeiras completas do estúdio do Mickey, não podemos confirmar exatamente se o fato de Ultimato estar se tornando a maior bilheteria global da história justamente durante a Comic Con foi apenas uma feliz coincidência.

 

Afinal, depois da inacreditável e bilionária estreia do longa, com o passar das semanas parecia que as chances de Ultimato alcançar Avatar iam se tornando cada vez menores. No final de maio, ele estava a US$ 105 milhões de distância do épico passado em Pandora, porém novos e fortes concorrentes (incluindo o bem sucedido colega de Disney Aladdin) chegavam para tomar salas de exibição e a atenção da mídia. Além disso, com toda a internet comentando abertamente os eventos do longa, ele acabou se tornando um evento muito menor. Ainda assim, no início de junho, ele tornou-se o segundo filme da história a chegar aos US$ 2.7 bilhões, estacionando a pouco mais de US$ 70 milhões do longa de Cameron. No entanto, ele sofreu um duro golpe ao ter sua exibição interrompida na China após pouco mais de um mês em cartaz – no país oriental, ele chegou a absurdos US$ 614,3 milhões.

 

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Sem as salas chinesas e com a bilheteria cada vez mais fraca nos EUA e em vários países, parecia que Ultimato teria que se contentar com a medalha de prata. Por isso, a Marvel decidiu tentar uma nova cartada: “relançar” o filme nos cinemas em alguns países do mundo com cenas extras e um trailer do novo lançamento do estúdio Homem-Aranha: Longe de Casa ao final. Nos EUA, tal estratégia ao menos serviu para dar um gás adicional ao longa que lhe permitiu chegar à casa dos US$ 850 milhões (antes, parecia que ele teria que encerrar entre os US$ 830 milhões) e ultrapassar a bilheteria ajustada de O Retorno de Jedi. Logo, o filme chegou ainda mais perto de Avatar, e as chances de bater o recorde aumentaram, ainda que não muito.

 

Portanto, como foi que Ultimato conseguiu chegar lá? Bem, segundo o analista do mercado cinematográfico Scott Mendelson, o “gás” extra dos Vingadores veio através de uma audição interna realizada pela Disney em suas finanças, que constataram bilheterias não reportadas ou reportadas com valores abaixo dos reais em diversos mercados estrangeiros. Portanto, ao auditar esses números, o estúdio encontrou o que faltava para o longa atingir sua bilheteria atual de US$ 2.79 bilhões – menos de US$ 1 milhão acima da de Avatar.

 

É o equivalente de uma mega corporação de entretenimento de encontrar na sua carteira aqueles 10 centavos que faltavam para você pagar a passagem do ônibus. 🙂

 

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Ao analisarmos os números de Ultimato, fica claro o grande responsável por levar o quarto Vingadores à vitória sobre os Na’Vi: a China. Vamos fazer as contas: Ultimato conquistou US$ 854,5 milhões nos EUA, US$ 614,3 milhões na China e US$ 1,32 bilhão nos outros mercados. São números imensos, ainda mais quando comparados com os de seu antecessor, Guerra Infinita: o terceiro Vingadores faturou US$ 678,8 milhões nos EUA, US$ 359,5 milhões na China e US$ 1.01 bilhão nos outros países. Portanto, Ultimato obteve uma bilheteria 26% maior que a de Guerra Infinita nos EUA e 31% superior à de seu predecessor nos mercados internacionais fora a China. Porém, no país oriental, este mesmo crescimento foi de inacreditáveis 71%. 

 

Em suma, enquanto nos EUA e na maior parte dos países o salto entre Ultimato e Guerra Infinita foi relativamente menor, na China ele foi grande o suficiente para catapultar o total global do longa. Caso Ultimato tivesse tido uma bilheteria chinesa “apenas” 31% superior à de seu predecessor (como foi o normal na maioria dos mercados internacionais), o quarto Vingadores teria saído de cartaz no país oriental com tristes e vergonhosos US$ 471 milhões (o que ainda seria o bastante pra ser o maior filme hollywoodiano por lá), portanto levando a uma bilheteria global final de US$ 2.33 bilhões – a segunda maior da história, superando Titanic, porém US$ 450 milhões abaixo de Avatar.

 

Resumindo, embora o longa tenha quebrado recordes em diversos países do mundo (incluindo no Brasil), foi justamente uma performance inacreditável na China que levou Ultimato a bater o recorde de Avatar. O épico de Cameron simplesmente não pôde contar com a mesma vantagem, pois o número de cinemas na China era muito menor em 2009, quando a oscarizada ficção científica dos Na’Vi estava em exibição – o que não impediu Avatar de chegar a incríveis US$ 204 milhões por lá.

 

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Aqui é importante ressaltar que, embora no papel Ultimato tenha derrotado Avatar, quando ajustamos os números do longa de Cameron pela inflação, eles ainda permanecem acima dos Heróis Mais Poderosos da Terra – em outras palavras, Avatar vendeu mais ingressos e levou mais gente aos cinemas do que Ultimato. Eu aprofundei essa questão em um texto que publiquei em maio, logo quando os Vingadores deixavam Titanic para trás. Essencialmente, a bilheteria global de Avatar ajustada pela inflação é de US$ 3.2 bilhões, ou seja, ainda distante de Ultimato.

 

Como eu argumento no artigo, a melhor forma de comparar a bilheteria de filmes atuais com antigos é ajustando a destes últimos pela inflação, porém nem sempre isso é possível. Afinal, é difícil saber com exatidão quanto exatamente filmes como Os Dez Mandamentos (lançado em 1956), Ben-Hur (que estreou em 1959) e outros sucessos do passado faturaram exatamente em cada cinema ao redor do globo, e o quanto isso se traduziria em dólares atuais. Ainda assim, até onde dados confiáveis conseguiram ser reunidos e auditados, a posição de Ultimato é invejável: o longa tem bilheterias globais superiores às ajustadas de clássicos como Tubarão, E.T.: O Extraterrestre, A Noviça Rebelde e o Star Wars original de 1977, ainda que esteja atrás do citado Avatar, bem como de …E o Vento Levou e Titanic.

 

Não é por inteiro uma comparação justa, afinal quando esses longas chegaram aos cinemas não havia salas especiais feito IMAX e XD, o 3D era muito menos difundido e, principalmente, a maior parte de suas bilheterias fora feita nos EUA e em alguns países desenvolvidos da Europa. Grandes mercados consumidores de longas hollywoodianos de super-heróis como o Brasil e a China só foram acrescentar números relevantes às bilheterias globais de tais longas a partir deste século.

 

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Seja como for, com Ultimato oficializado como a maior bilheteria global (não ajustada) da história, isso coroa o MCU e os filmes dos Vingadores como os grandes responsáveis por atrair enormes multidões aos cinemas na década de 2010. E só por isso, os Heróis Mais Poderosos da Terra já entraram para a história da Sétima Arte.

 

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Publicitário, formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais. Trabalho com Marketing Digital desde 2015. Apaixonado por bilheterias de cinemas, estudo o mercado cinematográfico brasileiro e estrangeiro já há vários anos, e desde 2017 sirvo como o principal analista de bilheterias para o Legado da Marvel.
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