Quando filmes de super-heróis conseguem ser mais do que filmes de super-heróis

Por Osmar Oliveira • atualizado em 23 de novembro de 2017, às 01:14

O Quarteto Fantástico de 2015 deixou muita gente traumatizada. Fora o fato de ter sido ruim de doer, tiveram as tretas durante as filmagens. É um raro caso de filme que deixou más lembranças tanto em quem estava envolvido na produção quanto em quem cometeu o erro de assisti-lo. Mais do que isso, promessas foram quebradas. Lá no começo da produção, o diretor Josh Trank disse que sua versão dos personagens seria uma ficção científica em vez de um filme de super-heróis. Uma espécie de A Mosca com a família fantástica da Marvel. Como o cara tinha acabado de sair de um ótimo longa, Poder Sem Limites, muitos ficaram confiantes de que algo inovador estava por vir. O resultado todo mundo já sabe. Fiasco, fracasso, choro, ranger de dentes, desgraça (quer chorar e saber mais detalhes? Clique aqui para ler o nosso textão sobre o filme).

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Isso fez com que muita gente torcesse o nariz quando Os Novos Mutantes foi anunciado como um filme de terror. “O que? A Fox vai tentar fazer um filme de terror com os X-Men? Já ouvi essa história antes.” Pois é, eles vão sim e por um motivo bem simples: não dá mais para ficar fazendo a mesma historinha de mocinho contra bandido. Cansa. Todo ano estreiam diversas adaptações de quadrinhos, é preciso pensar fora da caixa se você quiser chamar a atenção do público. Foi-se o tempo em que um cara voando ou soltando teias pela cidade era considerado novo. Hoje é preciso arriscar para manter o interesse da galera.

Ainda assim, calma, Os Novos Mutantes não é nem de longe a primeira produção a fazer essa aposta. Na própria Fox já temos alguns exemplos. Logan pode ser considerado um western moderno, enquanto Deadpool fica com o apropriado título de besteirol. Quem acabou ficando craque nisso foi o pessoal da Marvel Studios, talvez pelo volume absurdo de longas que eles vem lançando. Homem-Formiga foi feito aos moldes de um filme de assalto. Já Guardiões da Galáxia Vol. 1 & 2, por mais galhofa que sejam, são space operas. Homem de Ferro 3 seguiu à risca a cartilha dos filmes de ação dos anos 80 (acho que muita gente não pegou essa referência). Outro com uma pegada oitentista é Homem-Aranha: De Volta ao Lar, que se inspirou bastante nos clássicos de John Hughes. O título de campeão fica com o Capitão América: O Primeiro Vingador é um filme de guerra, enquanto O Soldado Invernal e Guerra Civil são thrillers políticos. Não, eu não esqueci da DC. O ótimo Cavaleiro das Trevas está mais para um filme policial, sem habilidades especiais ou elementos fantásticos. E olha que na época em que ele foi feito esse povo fantasiado nem estava tão em alta. Fazer essa mescla de gêneros é uma forma de renovar as adaptações de HQ, de dar uma noca cara para elas. A outra alternativa seria lançar filmes sem identidade até o público se cansar.

Só que isso não é tudo. Há um ótimo motivo para a Fox apostar num filme de terror com os pupilos do Professor Xavier: o terror é um dos gêneros mais rentáveis da sétima arte. Não se engane, não estou falando de grandes bilheterias, mas de filmes que custaram pouco para serem feitos e que arrecadaram rios de dinheiro. Quer exemplos? O primeiro Invocação do Mal teve um orçamento de apenas US$ 20 milhões, pouco se considerarmos o custo de vários blockbusters. Já a sua bilheteria alcançou a marca dos US$ 318 milhões, quase 16 vezes mais do que ele custou para ser feito. Um caso recente é o de It – A Coisa, que arrecadou, até o momento, surpreendentes US$ 607 milhões, sendo que foram gastos somente US$ 35 milhões para fazê-los. Não podemos esquecer de Atividade Paranormal, também conhecido como o sonho de qualquer produtor. Uma bilheteria de US$ 193 milhões pode parecer pouco se comparado aos filmes citados, né? E se eu disser que ele custou míseros US$ 15 mil pra ser feito? Mais barato que muito carro popular aqui no Brasil. O rendimento do longa foi de 1.313.300%. Quem diria que um terror filmado de modo caseiro daria tão certo?